Histórias que INSPIRAM

Antari Tamang

Nasci em uma pequena vila atrás das montanhas do Nepal. Meu nome é Antari Tamang. Eu tenho uma grande família com 7 filhos, pai e mãe. Eu sou a quinta filha da família. Sempre fomos pobres. Na minha infância não havia comida suficiente e nossas necessidades básicas não eram atendidas. Eu não podia frequentar a escola.

Um dia minha própria irmã e seu marido me disseram que não podíamos mais viver daquela maneira. Nós deveríamos tentar ficar ricos como os outros. Eles me disseram que nossa família estava endividada e que tínhamos que pagar as nossas dívidas. “Você deve ir para Kathmandu (capital do Nepal) para trabalhar e ganhar dinheiro. Vamos te enviar para lá para algumas pessoas que te permitirão estudar e trabalhar”. Eles me repetiram isso três vezes e me disseram que haveria comida boa e que o trabalho seria fácil e simples.

Quando eu concordei, minha irmã e meu cunhado me levaram a uma vila longe de casa e me entregaram a um homem. Ele me levou para Kathmandu. Eu tinha apenas 10 anos e não sabia o idioma nepalês porque eu falava a língua do povo da minha vila. Eu não conhecia ninguém na cidade, mas fiquei muito feliz por estar em Kathmandu, porque nunca tinha visto casas e prédios grandes antes.

Ficamos uma noite em algum lugar e sei que no dia seguinte chegamos à Índia de ônibus. Eu não sabia que era a Índia. O homem me levou para outro lugar, onde encontramos uma senhora. Ele me disse que eu deveria ficar com ela e que ela cuidaria de mim. Me disse também que viria depois de alguns dias para me visitar. Ele nunca voltou. Essa senhora, vendo que eu era uma criança muito pequena, me enviou para outra senhora em uma pequena casa. Esta última, me dava remédios e comida periodicamente. Eram medicamentos hormonais para fazer meu corpo crescer rapidamente. Fiquei com essa senhora por 3 meses e depois fui devolvida à primeira senhora. Ela me levou para um lugar muito estranho, onde muitas meninas estavam de pé e usavam roupas muito curtas. Eu tive coragem de perguntar a uma garota e ela me disse que aquele era um “lugar muito ruim”. Eu pensei que eles estavam me levando para estudar, mas na verdade estavam me vendendo para um bordel. Eles me mandaram para um quarto e me disseram o que eu deveria fazer. Quando disse que não queria, me forçaram e disseram que eles pagaram um preço alto por mim e que eu tinha que pagar de volta, se não, nunca sairia dali. Eles me forçavam todos os dias a “trabalhar”, me espancavam e me torturavam física e verbalmente. Fiquei nesse pesadelo por 6 meses.

Um dia, a equipe da IJM (Missão Internacional de Justiça) veio nos resgatar. Isso foi em 2007. A IJM me manteve em abrigo Indiano por 3 anos. Depois de terminar meu processo judicial, cheguei à Nepalese Home no Nepal em 2009. Depois de 2 anos, fui visitar minha família e soube que meu pai estava morto, mas fiquei feliz em ver minha mãe viva e meus irmãos.

Hoje, posso dizer que sou muito feliz na Nepalese Home. Eu tenho uma grande família que me ama, cuida de mim e me apoia. Todas as minhas necessidades são atendidas. O sonho de estudar parecia distante, mas agora já estou nos últimos anos do ensino médio, me preparando para entrar na faculdade de Administração e sonhando em ser uma contadora no futuro!”

Jhina Tamang

O meu nome é Jhina Tamang. Meu pai morreu quando eu era criança. Minha mãe tinha que trabalhar muito para poder alimentar a nossa família, composta por ela, minha irmã e eu. Depois de algum tempo, ela se casou com outro homem porque queria nos dar uma figura paterna. No começo ele foi muito bom conosco, mas depois ele começou a nos bater e nos forçar a trabalhar para pegar o nosso dinheiro. Mesmo sendo muito jovem, comecei a trabalhar em um restaurante. Durante quatro meses, dei todo meu salário ao meu padrasto, mas ele me batia e xingava do mesmo jeito. Ele usava o meu dinheiro para comprar bebidas e cigarros. Isso me deixava muito triste e feria meu coração, porque tudo que eu estava procurando era o amor de um pai, mas nunca recebia.

Um dia, alguns homens foram ao restaurante. Eles já estavam bêbados. Quando fui servir mais bebidas, eles tocaram meu corpo. Eu disse ao dono do restaurante o que eles estavam fazendo, mas ele não acreditou em mim. Ele me bateu e me repreendeu. A partir disso, ele também costumava me tocar e dizia aos outros que podiam fazer o mesmo. Eu costumava chorar muito. Certo dia, o dono do restaurante pegou uma vara e começou a me bater. Eu gritava muito alto até que consegui fugir. Quando cheguei em casa meu padrasto não me deixou entrar. Ele queria o meu dinheiro. Disse a ele que não tinha e então, com muita raiva, ele também me bateu com um pedaço de pau. Foi aí que eu saí de casa e comecei a morar nas ruas.

Fiz amizade com alguns meninos e meninas que fumavam, bebiam e usavam drogas. Eles me diziam: “Você também pode fazer como a gente. É muito bom. As pessoas nos odeiam e nos entristecem, mas as drogas e o álcool nunca nos entristecem ou magoam nosso coração. Se você está triste, isso vai te animar”. Comecei a beber, fumar e usar drogas. Me sentia muito feliz fazendo isso. Logo já bebia e usava drogas mais do que meus amigos. Eles ficavam muito surpresos e me davam ainda mais.

À essa altura já tinha desistido dos meus sonhos, não tinha mais esperança e havia me esquecido o que era o amor. Fiquei muito mal e agia como uma pessoa louca. Eu roubava e espancava as pessoas. Às vezes eu queria morrer. Então eu usava muitas drogas. Depois de ficar muito doente, orei a Deus: “Por favor, me dê pais que cuidem de mim e me amem”. Então, minha irmã me procurou e me disse: “Vamos procurar ajuda!”.

Saímos às 6 horas da manhã e às 3 horas da tarde encontramos a casa 1 da Nepalese Home. Conversamos com o tio Silvio e tia Rose e eles nos deixaram ficar. Ficamos muito felizes. Porém, largar o vício é muito difícil. Por isso, várias vezes eu saía para as ruas e depois voltava para a Nepalese Home. E eles sempre me diziam que eu podia ficar. Comecei a notar o amor e a carinho nos olhos do tio e da tia. Então, nunca mais fugi. Eles me deram o amor de pai e mãe que sempre procurei.

O amor me curou! Eu tive a oportunidade de uma vida melhor! Eu não tinha esperança, era cheia de ódio, não confiava em ninguém. Hoje, sou uma pessoa feliz. Eu brinco com os outros e gosto de fazê-los rir. Me casei no dia 20 de maio de 2018 com um homem muito bom que provê tudo que preciso. Sou feliz por ter a minha própria família. Eu trabalho na Nepalese Home e posso contribuir para restaurar outras vidas. Também posso ajudar a minha mãe e o meu padrasto e meus irmãos que nasceram desse novo matrimônio de minha mãe.

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